Este é, depois da Ilíada, o principal texto que foi reunido sob o nome de Homero na cultura grega. Vem do nome do seu personagem principal, Odisseu – ou, como ficou conhecido pela tradução latina, Ulisses.
Diferentemente do primeiro livro, não narra feitos bélicos nem se restringe a um local isolado, mas trata de viagens e aventuras desse que foi um dos heróis da guerra de Troia.
Após a guerra, inicia-se a volta de Odisseu e seus companheiros para seu reino, em Ítaca. Odisseu é obrigado a ir à guerra de Troia e deixa para trás sua esposa e seu filho de um mês de idade, Telêmaco. A guerra dura 10 anos e seu regresso mais 17. A esposa Penélope, que acreditava na volta do seu rei e marido, estava sendo pressionada por um grupo de pessoas que queria tomar o poder. Esse grupo dizia que Odisseu estava morto e que ela deveria se casar com um dos “pretendentes” ao cargo de rei.
Com tamanha pressão, Telêmaco sai à procura do pai com alguns companheiros e estes vão para Esparta e outras cidades, em busca de notícias que pudessem ajudar a rastrear os passos de Odisseu. Este, por uma série de peripécias, tem seu regresso muitas vezes retardado. Como o livro é demasiado longo, não caberia aqui narrar todas as aventuras. Mas algumas são notáveis e, ainda que sem esmiuçá-las, vale a pena mencioná-las:
- Odisseu chega à ilha da ninfa Calypso, onde fica preso por muito tempo em razão dos encantos e promessas que uma região cheia de mulheres promove aos marinheiros;
- O aprisionamento do deus Éolo, deus do vento em um saco, que ulteriormente é aberto e lança a nau para lugares ainda mais distantes;
- O lugar para onde foi arremessada a nau era a ilha da bruxa Circe, que transformou os marinheiros em porcos;
- O aprisionamento dos viajantes pelo ciclope Polifemo e sua estratégia para sair da prisão na caverna;
- O tapar dos ouvidos com cera para não serem atraídos pelos cantos das sereias, devoradoras de homens.
Dentre muitas outras peripécias que foram utilizadas para evidenciar a necessidade de expressão da maior das características de Odisseu: a astúcia.
Enquanto isso, em Ítaca, a rainha Penélope continuava sofrendo forte pressão dos pretendentes, já que Odisseu e seu filho Telêmaco não retornavam. Assim, ela prometeu cozer um tapete: se o rei não retornasse antes do seu acabamento, ela escolheria um pretendente. Mas decerto em razão do convívio com seu marido, o astuto Odisseu, Penélope cosia o tapete durante o dia; e à noite o descosia, para poder ganhar mais tempo, na esperança de que o rei retornasse.
Depois de uma jornada com muitas aventuras e revezes, Odisseu encontra Telêmaco e seu grupo e juntos retornam a Ítaca. Avisado pelo filho sobre os pretendentes, Odisseu encontra a deusa Atena, que lhe diz que se ele retornasse, seria morto pelos pretendentes, que não o reconheceriam. Assim, a deusa o transforma em mendigo, disfarçando-o para que pudesse adentrar ao palácio sem ser visto. Quando deste episódio, a trama de Penélope é descoberta e exige-se que faça a escolha de um pretendente. Ela, novamente astuta, diz que escolherá aquele que conseguir retesar o arco do seu marido – mas ninguém obteve sucesso.
Por fim, chega Odisseu disfarçado e consegue o feito. Ele é logo reconhecido por sua esposa, que o aceita como pretendente, para a revolta dos outros, que promovem uma verdadeira rebelião. Mas, tendo seu arco em mãos, Odisseu consegue reprimir a revolta e retomar o seu lugar de rei depois de longa jornada.
Assim, com o restabelecimento da ordem, desvendamos o significado principal da Odisseia: o ideal de belo e bom guerreiro, antes atribuído a Aquiles, também tem como modelo Odisseu, por sua destreza, astúcia, esperteza, inteligência e habilidade, tanto na guerra quanto no governo, sendo capaz de ordenar. Os mitos homéricos tinham como intenção que esse modelo fosse imitado pelo grego de seu tempo.
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